quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Coisas de Vó...

Minha avó é uma senhorinha negra, miúda, católica roxa, como se diz por ai dos fanáticos por futebol. Já com a saúde debilitada, quase não enxerga mais e anda com dificuldade. Como quase toda vó que se preze, tem um vocabulário caboclo, simples, repleto de adoráveis erros de português e palavras arcaicas que já não sabemos traduzir.
Já perdi as contas de quantas vezes por dia ela reza o tal do terço, até outro dia descobrir, que ela pula as bolinhas disfarçadamente de duas em duas, de três em três, na malandragem, para acabar mais depressa.
Ela sempre foi brava, sempre aparecia na hora exata em que eu executava um plano maligno. Eu amava ir pra casa dela, adorava roubar as laranjinhas que ela fazia para vender, sempre duvidava que ela fosse sentir falta, mas não é que ela contava uma por uma?
Agora, ela também já não ouve muito bem, na verdade, eu desconfio que ela tem uma espécie de audição seletiva; ouve só o que realmente lhe interessa. Heim???
Dorme sentada, agente fala; "vó, vai deitar na cama!" ela diz, "não tô durmindo, só tô descansando os olhos".
A memória também já falha, troca os nomes dos netos, esquece que almoçou, muitas vezes nos divertimos com as confusões que ela faz.
Também tive outra vó, esta já falecida, era menos puritana que a outra.
Quando eu era criança aprontava atrocidades e corria pra me esconder atrás dela, e ela mesmo depois de tanto me advertir que Deus não gosta de mentira, mentia sem pudor para me defender; colocava a culpa da "arte" no cachorro, no vizinho, ou assumia tudo. Soltava sempre aquela famosa frase de vó; "tadinha, ela é pequena!"
Quando meu pai me obrigava a comer verduras e legumes e eu sofria horas intermináveis, ela dava um jeito de raptar tudo do meu prato e comia ou jogava num vasinho de planta mais próximo.. Ela era a mais engraçada das vovós. Sempre ficava doente e sempre sabia de uma garrafada boa para o mal, uma raiz qualquer curtida no vinho branco, então se curava da doença e ficava tonta ao mesmo tempo.
Ela achava nojento beijo de língua, mas teve 12 filhos, um atrás do outro. rsrsrs (sem beijar?).
Quando começava a perder o controle dos netos, ela reunia todos e contava histórias de terror, até agente ficar tão apavorado, que não desgrudava dela, a seguíamos pela casa toda, agarrados na barra da saia.
Tem coisas que tem cara de vó, comida de vó; biscoito frito, pão de queijo....
Cheiro de vó, uma vó tinha perfume de alfazema, a outra cheirava  a leite de rosas.
As duas ficavam horas contando histórias de quando o mundo era menos violento, a palavra dos homens tinha valor, as moças eram mais recatadas, a vida era mais dura, mas, dava saudade.
Eu ouvia aquilo e tinha certeza absoluta, que preferia o mundo moderno de agora, mas, nem falava nada, melhor não interromper a nostalgia.
Ah, mas agora é que vem o troco. Eu mesma já envelheci para as crianças de hoje, a fita cassete, o vinil, o disquete, a datilografia, a tabuada, os desenhos e os programas que assistia, as músicas, as roupas, as gírias que estavam na moda...
Como vou explicar tudo isso?
Eles dirão de mim...coisas de vó!
Enquanto esse dia não chegar, melhor me atualizar num up-grade contínuo para não ser ultrapassada pela nova geração, melhor não confessar as antiguidades da minha infância, se eles não souberem, não poderão usá-las contra mim. E que o Renew me ajude a me camuflar entre os jovens por mais alguns anos.
Ai que medo........


Kelly Rodrigues.

sábado, 25 de setembro de 2010

Inteligência Artificial



Não, não vou fazer uma piada sem graça sobre as coitadas das loiras . Apesar de adorar a música do poeta O Pensador, tenho que concordar com o finalzinho dela que diz que a burrice em si não tem ligação com a cor do cabelo, tem loira burra, morena, ruiva...loiros burros aos montes por aí...

Mas, então você me pergunta; Inteligência Artificial? É, é a última moda.
A beleza, poder, personalidade, não são mais requisitos suficientes para alguém ser bem-sucedido, na vida profissional, social, amorosa. Graças a Deus!!! Eu gosto de gente inteligente.
Cada vez mais as pessoas tem acesso á informação, desejam o conhecimento e apreciam, exigem a inteligência como atributo insubstituível.
Para mim, inteligência é uma capacidade mental que todos tem, uns mais do que outros claro. Mas, essa capacidade em si, não é lá grande coisa, tem que ser exercitada, desenvolvida, instigada. Alimentada com informação, conhecimento, leitura, tem que ser somada á sabedoria que é a arte de aplicar com eficiência tudo isso nas situações do cotidiano.
Como é agradável conhecer alguém inteligente de verdade, que tem boas idéias, se expressa bem, sabe enriquecer uma conversa, um discurso. Encanta.
Eu admito, invejo muitos cérebros ilustres por aí.
Mas, vejo sorrateiramente surgir uma nova pirataria com essa necessidade do "mercado".
Pessoas que decoram o nome do livro e do autor, passam os olhos rapidamente na contracapa, só para tentar passar esta imagem.
Gente que quer parecer inteligente, gente que parece inteligente, mas, não é.
Fico olhando as frases e os textos dos orkuts...(cada pérola).
Todos querem adotar uma filosofia. Copiam um pensamento piegas, exibem uma frase de placa de caminhão e fica lá exposto orgulhosamente do ladinho da foto. kkkkk
Nada contra citações não, eu adoro colocar frases de grandes pensadores. Mas, só dos bons, daqueles que eu acho que realmente merecem e que também tem alguma coisa a ver comigo.
Outra gafe terrível, são os que decoram palavras do dicionário. Gente, é forçar muito a barra, ridículo. Notei um ser outro dia, que tentava encaixar na conversa palavras difíceis, que a maioria não conhecia, esperava a cara de paisagem das pessoas e depois estufava o peito para explicar o significado.
Quem foi que disse que um bom vocabulário tem que ser carregado de palavras desconhecidas e difíceis? Basta ser bem compreendido, correto, simples. Pessoas realmente inteligentes, sabem conversar com todo tipo de pessoas, sabe adotar abordagens e linguagens diferentes. Aprendem com todos.
Estes intelectuais Made in China, são frágeis, desmontam com facilidade. São encurralados quando se exige deles mais do que estava previsto, mais do que o texto decorado que eles se esforçaram para apresentar.
Ninguém deve se apegar á ignorância, vamos lá, se esforcem então.
Eu prefiro os leigos humildes, mas inconformados, admiro quem tem humildade para dizer, eu não sei. Ou na pior das hipóteses, acho que tem um certo charme no óbvio. Porque tem gente que diz umas coisas tão óbvias que até parecem inteligentes. Em assuntos muito complexos o silêncio também é um escape perfeito para evitar o erro.
Pois bem, já tá avisado, comigo não cola. Pra mim Q.I. não é abreviação de "quem indica", hãm hãm, gênio original é gênio por merecimento.


Kelly Rodrigues.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Massa Cefálica


Estava aqui pensando comigo, pôxa vida, somos seres racionais, nós pensamos...
Na verdade temos esta capacidade, apesar de não exercitarmos o hábito. Cada vez mais nos poupamos do trabalho de pensar, de formarmos uma visão crítica, uma opnião. E o "eu acho", o "eu penso", é na verdade um plágio barato do que se divulga por aí. Perdemos assim nossa oportunidade de existir.
Quase todos os meios que nos influenciam, não permitem questionamentos, ou pior eu diria até que nós não queremos fazer as perguntas, e um dia, quem sabe, nós não saberemos mais. Engolimos os conceitos que a televisão, as revistas, a internet nos empurram goela a baixo. O que é realmente belo? Ser magra? Não, ter algumas partes avantajadas, ter cabelos lisos, compridos? Não, não, curtos. Mas qual cor mesmo?
Ah, a moda...estar na moda, ser igual a maioria, ser aprovado pela maioria, estar na média, ser medíocre. Seguir o padrão, mas quem mesmo definiu o padrão? Não queremos pensar nisso.
E o que tem valor? Ter ou  ser, eis a questão. Nossos valores estão...estão nada. Que valores? Quase todos foram lentamente sendo diminuídos, esquecidos. A família, o caráter, a compaixão, o patriotismo, a pureza, a fé. Não temos mais tempo, não temos mais vontade. Não pensamos mais nisso, só dizemos; hoje em dia é assim... Mas porquê? E isso é bom? Não pode ser mudado? Nossa geração não quer mudar mais nada, só aceitar, pacifistas demais, conformados demais, controlados demais.
Ouvi alguém dizer outro dia com o peito estufado; "Eu tenho livre arbítrio", será? (penso eu) rsrs
Porque o que eu vejo são pessoas que se deixam levar pela correnteza e ela nem é tão forte assim, ainda. Não pensamos mais, não lemos, os livros nos fazem pensar, na televisão o pensamento já vem pronto... Em quase todas as causas importantes, que tem o poder de definir o nosso hoje e o nosso amanhã,  nós não nos envolvemos, não sabemos o que dizer, não conhecemos o assunto ou não nos interessamos por ele. Então não teremos o direito de protestar.
Tenho a fama de questionar demais, de ser rebelde porque não concordo com tudo, por querer definir e defender minha opinião. Pelo menos não é aquela velha opinião formada sobre tudo (peguei emprestado) Quando ouço boa música, quando leio um bom livro, quando vejo algo inteligente criado por alguém, eu penso: eu quero ser assim, alguém criou isso, eu quero pensar, quero analisar todos os pontos, quero chegar a uma conclusão, ou á várias. Quero ter orgulho de gritar; eu penssoooooo!
Talvez por isso eu goste tanto de reticências, é, aqueles lindos três pontinhos que agente coloca no fim das frases e que deixam uma idéia de algo mais entende? Já é um pequeno desafio para que as pessoas concluam o pensamento, decifrem a intenção.
Quem você é, como você é, qual é a sua opinião? Pense!!!
Me assusta pensar que o ser humano só usa uma pequena parte de seu cérebro. Estaríamos nós num processo de emburrecimento? Gente, minha massa cefálica não pode ocupar um espaço ocioso aqui embaixo dos meus longos fios negros não tão lisos assim...


Kelly Rodrigues.



Quando Escrevo...

Observar as pessoas, e observar a mim mesma, me dá inspiração para escrever.
Eu gosto de tentar decifrar o que acontece á minha volta. Gosto de ler as pessoas, de ficar quietinha e prestar atenção; ao olhar, a linguagem corporal, ao tom da voz. E eu tenho também, além da boa observação, uma ótima intuição, (eu acho).
Nenhum poder sobrenatural não, mas, geralmente eu acerto, sinto qual é a intenção das pessoas, o jeito de cada um. Eu gosto de identificar nelas o humor; de quase tudo nesta vida, dá pra rir, eu acho. Acho que o riso deixa os problemas mais fáceis, deixa agente mais leve, relaxa, conforta, por isso faço questão do humor.
Tenho alguns requisitos nos meus textos, escrevo criticando, trazendo á tona assuntos que devem ser discutidos, refletidos. Tentando também fazer com que as pessoas se despertem com a leitura, pensem no assunto, mas que também se divirtam com ele.
Gosto de ver as pessoas quando estão lendo. Eu sempre faço um teste assim, fico olhando com expectativa, como elas reagem... Elas começam a ler com uma expressão curiosa, tentando ainda saber do que se trata, lêem a introdução, aí balançam a cabeça negativamente rindo, como quem pensa; "só você mesmo" ou positivamente dizendo sem palavras; " é mesmo!". Ficam pensativas, entendendo a moral da história, depois comentam..."eu também (alguma coisa qualquer)" ou "eu conheço alguém"... Aí então eu sinto a missão cumprida, eu consegui mexer com alguém na medida que eu planejava.
Me sento para começar, estralo todos os dedos das mãos, estico os braços... ah, como é boa a sensação. A folha em branco, na tela do word, é tão promissora, tão desafiadora. rsrsrs
E eu valorizo os detalhes, de acender reflexões que ninguém nota, de conversar sobre hábitos do cotidiano. O comum é interessante, é engraçado, e as pessoas se identificam.
Quando escrevo, me deixo também ser observada, fico exposta. Deixo as pessoas conhecerem um pouco de mim, como penso, corro o risco da reprovação. Os textos são como filhos, tenho ciúmes, um certo egoísmo, e ao mesmo tempo orgulho, um desejo de que cresçam e cumpram seu propósito.
Quando escrevo eu me reinvento, me analiso, me realizo.

Kelly Rodrigues.