terça-feira, 14 de junho de 2011

Quando eu morrer...


Não tenho medo da morte, pelo contrário, sou ciente da paz que chegará com ela. Não, de jeito nenhum, também não desdenho a vida. Nem estou querendo tão cedo passar desta. Mas porque a morte assusta tanto? A pontuação correta não é um ponto final, são três pontinhos ...
 Quando eu morrer, não sei quando, não sei como, não importa se for assim de repente ou se por meses a fio, doente, fizer um drama um pouco maior. Se for ainda jovem ou com muitas rugas e histórias para contar. Peço somente que eu esteja aprovada.
Não será cedo demais, nem tarde demais, será exatamente quando deveria ser, porque  Deus assim desejou.
Não, Ele nunca erra os cálculos, não o questionem. 
Antes eu gostaria de cumprir uma pequena lista de feitos, mas mesmo se não der tempo de realizar esta, muitas outras listas já foram conquistadas, não poderei reclamar;

 Quero escrever um livro e ter um filho, dois quem sabe, sim a árvore eu já plantei, se sobreviveu eu já não sei, mas fiz a minha parte. Quero aprender a andar de patins, coisa mal resolvida da infância.
Queria muito saber cantar, ter voz de negona do coral sabe, mas aí já é difícil, não nasci com o talento, já era.
Ah, aprender a língua dos sinais, seria tão bom.
Queria construir um boneco de neve, igual ao que agente vê nos filmes, na Paraíba é que não vai ser né? 
E fazer um vídeo com os amigos mais malucos cantando músicas antigas em péssimo inglês. Queria também pular de pára-quedas, descobriria talvez porque os pássaros cantam?
E o que dirão de mim? O que será que dirão? 

Digam a verdade pelo amor de Deus! Falem dos meus defeitos, eu já morri mesmo.
Digam que eu era insuportável nervosa, que tinha um temperamento terrível,  mas que tentava esmagá-lo o quanto podia, e segurar a língua com todas as minhas forças.
Será que consegui?
Digam que era teimosa, mas que orava todos os dias pedindo por misericórdia, desejando ser guiada pelo caminho correto.
Digam que a pose toda auto-confiante era só pose, que eu tinha muitos medos e chorava á toa. Digam que eu gostava de ler e de escrever, assim meio nerd.
Que eu gostava de cozinhar também, ah contem sobre a panqueca, o estrogonofe, ou o macarrão que eu fiz pra você um dia. Lembre se já rimos juntos, eu gostava de rir, aprendi com meu marido, alegria na minha vida. Deus me escolheu entre todas as mulheres do mundo, para ter o privilégio de ter o seu amor. Obrigada por isso Senhor!

Que tive uma mãe perfeita, um pai apaixonado, irmãos que são um pedaço do meu coração, gastei os joelhos orando para que se convertessem, se eles ainda estiverem por aqui, não custa uma última tentativa. 
Amigos, não preciso citá-los, cada um foi um presente, nem sei se mereci  tanto, desejo que eu possa ter semeado Jesus na vida de todos, o suficiente para vê-los na glória  um dia, se eu também a alcançar. Alguns foram mais que amigos, como Deus prometeu que seriam.
Fui privilegiada por ter pastores tão preciosos, escolhidos por Deus, amados, jamais poderei dizer obrigada o suficiente.
E quando eu morrer eu quero que chorem, não por pretensão claro, mas senão, teria eu passado por esta vida assim sem tocar nenhum coração, sem fazer falta a ninguém?
Mas não muito choro, e que a dor passe logo prometam! Que fique só a saudade. Sem lamentos do que poderia ou não ter sido feito ou dito. Lembrem-se, ainda teremos muito tempo.
Já escolhi também uma trilha sonora para o momento; Hey Jude dos Beatlhes versão Across the Universe, faço questão. 

Se nós já brigamos e não deu tempo de pedir perdão:
_Hei, me perdoa, por favor! Não quero deixar nenhuma pendência por aqui.
Se puderem todos realizar um último desejo e eu não estiver sendo exigente demais, repensem suas próprias vidas, enquanto respiram ainda poderão voltar para Deus. 
E trabalhem, orem, preguem, quero ter muita companhia, sempre gostei de casa cheia. Se eu tiver direito a um desejo só, unzinho. Eu riscaria o restante da lista para pedir só este:

Não pediria para ser grande nesta terra, alguém com dinheiro, influência ou poder. Mas somente que eu possa ter cumprido, tudo, exatamente o que Deus planejou, tudo que ele escreveu pra mim, no livro da vida.
Assim poderei dizer que vivi plenamente.

Kelly Rodrigues

3 comentários:

Srª Ribeiro soltou o verbo...

Esse é o tipo de texto que me faz chorar descontroladamente. Não pela nostalgia impregnada nas frases, nem pelo tom rasgado de despedida, claro que todos esses quesitos influenciam a alma, nos faz navegar na emoção. o que mais me encanta é como as palavras se encaixam, como elas se combinam, parece que foram milimetricamente pensadas, rigosomente medidas e postas ali, isso sim, contribui diretamente na formação de um turbilhão de lágrimas nos olhos, de um aperto sem explicação no peito...
A morte devia ser proibida pra gente com um talento desses. É sobrenatural...

Kelly Rodrigues soltou o verbo...

Sim, cada palavra foi pensada, encaixada, para expressar o que eu diria se fosse a última oportunidade. As coisas que fazemos com este sentimento são o nosso melhor. Amu vc me apaixonei pelo comentário, obrigada de verdade por cada letrinha.

Ney soltou o verbo...

Estava esta manhã pedindo a Deus o que falar em um velório de um senhor que não foi uma benção para sua igreja apenas, mas para toda a cidade e encontrei este texto, que Deus continua a te utilizar para pregar o evangelho através de textos como esse!

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