Perdem-se os meus pensamentos, construindo imagens do que eu desejo.
Fazem planos, reproduzem o sentimento de possuir, o gozo de enfim conquistar.
De olhos fechados a mente pinta um quadro de belas imagens em cores vivas.
O desejo me faz estender os braços e os dedos, tentando alcançar o que não existe, o que eu construi de brisa e de sonhos.
O desejo, o anseio pelo que não tenho, não posso ter, ou penso não ter.
O que me move e me cega ao mesmo tempo, como uma miragem que enxergo ao longe e que nunca chega.
Desejo antigo, mente a força que tem, vai e volta sempre latente, persistente, assume o controle, o tira de mim. Inventa uma urgência, me convence e eu me distraio nela.
Odisséia que me rouba o tempo, que me rouba o juízo e o sossego.
E alimento o desejo enquanto deixo perecer o que é real.
Insisto em não reparar no que tenho, desperto em mim insatisfação constante e injusta.
Crio a ilusão, sigo em busca dela, mas como um toque em bolha de sabão, se desfaz.
E a vaidade vai adiando a conclusão do engano e acovardando o despertar.
Até que agarro um súbito de sobriedade e sensatez que passava por mim.
Percebo que toda desilusão afinal é mesmo, uma visita necessária da verdade.
Não há razão alguma em estagnar a própria vida, para olhar para um quadro, por mais encantador que ele seja.
Mas quanto maior o desejo, maior dependência tenho do objeto.
Em que negá-lo é inútil, porém a consciência do seu mal não reduz sua força.
E se todo vício é vencido com a decisão contínua de resistir a ele, desejo que este desejo morra em mim ou que se cale, ou que eu consiga ignorar o seu chamado.
Sou na verdade eu a vilã e não o desejo, este é vulnerável, assume a forma que a minha alma imprime e requer.
Desejo ter bons desejos, que sejam nobres, e que sejam poucos.
Que preservem a liberdade e a razão.
Que anseiem pelo que faz bem, pelo que dá certo e é certo.
Kelly Rodrigues.