Adquiri uma técnica de sobrevivência social que eu
chamo de seleção intuitiva. Quando conheço uma pessoa, eu a classifico
utilizando de maneira muito útil, uma caixa imaginária de etiquetas e limites.
Se me pareceu boa pessoa, se não muito amigável, se interessante, se
suportável, se faz rir ou irritar, mas não é de todo pré-julgamento é um
processo com vários níveis de avaliação e nele, devagarzinho eu confirmo ou
desfaço as primeiras etiquetas, substituo-as com prazer se de alguma forma me enganei
a princípio.
Admito ser uma tática defensiva, ah é sim, depois
de algumas vezes ter a cara em cacos pelo chão. Por isso ainda tenho a
tendência de ouvir minhas intuições, mas de questioná-las também, temo julgar e
perder uma boa oportunidade, um bom amigo, porém ainda sinto que nas relações
humanas observar é tudo; o olhar, as palavras, o tom de voz, o sorriso, as
atitudes e mesmo as intenções por trás delas. A expectativa não é dificultar o
acesso, mas valorizar o espaço. O desejo é trazer pra perto, enquanto também
estou a caminho, a confiança define o avanço da conquista.
O conhecer é mútuo, e um risco constante, quanto
mais perto mais evidente fica a alma. E a técnica, o tal processo de avaliação,
talvez até possa parecer um tanto arrogante, mas é na verdade quase covarde e
eu diria acima de tudo que é prudente. Mas infelizmente não é infalível porque
as pessoas não são exatas e as situações não são previsíveis. Com o passar do
tempo percebi que não se trata de avaliar as pessoas como boas ou más, não
acredito que possa haver essa definição.
Mas cada relacionamento exige uma aliança e nem
sempre ambas as partes estão dispostas a assumi-la no mesmo nível de compromisso
e de lealdade, assim é quase inevitável surgir um diagnóstico de decepção e
mesmo com todo o cuidado metódico do processo, consigo ainda me entristecer
quando acontece.
A palavra confiança vem do latim “com fides”; com
fé. Depende mais dos afetos do que da lógica, mais do espírito que do cérebro,
é o elo que une as pessoas e desfaz as reservas. Confiar é crer na moral, na sinceridade, ter
esperança, dar crédito, dizer sim sem hesitar. É o tempero que dá leveza as
relações e sem ela nada se pode construir.
Quando tenho fé em alguém, dou um pedaço de mim que
revela as qualidades e os defeitos, as virtudes e as falhas, sem direito de
pegar de volta. O perdão é necessário, nenhuma mágoa vale à pena e o perdão
mais do que por consideração ao outro, é requisito básico de amor próprio,
liberta. Mas se a confiança é quebrada, se a aliança é desigual ou rompida
mesmo depois do perdão, aquele pedaço mesmo que pequeno sempre vai fazer falta.
"A verdade é que todo mundo vai te machucar, você
só tem que escolher por quem vale a pena sofrer." Airton Senna.
Kelly Rodrigues.