Quando ela nasceu era o bebê mais lindo do mundo! Sempre teve carinha
de anjo e cabelos encaracolados de um tom castanho dourado. E a gente dizia que
ela era loira porque era adotada, ela chorava e minha mãe abraçava
desmentindo...
Eu sofri incontáveis injustiças porque ela era a caçula e todo mundo
superprotegia.
Fui irmãe, eu a levava pra escola, fazia o lanche, ajudava no dever de
casa e ela passava sorrateiramente para a minha cama no meio da noite quando
estava com medo ou quando chovia. Eu a distraia fazendo tranças na franja do
cobertor.
Ela assistia desenho comendo milhopã, como se fosse a melhor refeição
do mundo, sempre dormia no sofá, lutando contra o sono. Usou por meses seguidos
o tal do tênis de luizinha, não importava se combinava ou não com a roupa.
Eu dei pra ela todas as minhas barbies que cuidei com tanto amor, ela
cortava o cabelo delas curtinho e desenhava nos braços com caneta bic, possivelmente
já uma previsão do visual loiro Chanel e todo tatuado que tem hoje.
A caligrafia dela é
quase igual a minha, escrita de fôrma, bem pequenininha até confunde, mas não mais que
a voz, ao telefone engana qualquer um.
Sempre dormimos no mesmo quarto e conversávamos e
ríamos até de madrugada, até hoje eu morro de saudade de fazer isso. Eu a
acordava cantando Don´t cry for me Argentina em tom agudo estrondoso, ela
cobria os ouvidos com o travesseiro, mas eu insistia até vê-la descendo as
escadinhas do beliche.
Brigávamos por tudo, pelas tarefas de casa, pelas roupas
e para decidir qual canal assistir.
E ela cresceu, eu a chamo de feia, mas ainda acho a
coisa mais linda do mundo.
Tem um temperamento terrível, pouco juízo, é
briguenta, impulsiva, mas é doce, leal e carinhosa. Faria qualquer coisa para
defendê-la, mas ela nem precisa mais, já sabe fazer isso sozinha.
Assim, minha irmã, pitanga
do meu coração, meio azeda, meio doce.Tem meu sobrenome, meu sangue e todo o meu amor...
Saudade demais!
Kelly Rodrigues.