sábado, 29 de janeiro de 2011

Jesus, meu cartão de crédito.



“- Depois que eu aceitei Jesus minha vida mudou, eu tinha muitas dívidas e vivia passando por dificuldades, agora sou empresário bem sucedido, tenho carro novo, casa nova, tudo mudou.
-E o que o senhor falaria pra quem está em casa passando pela mesma situação?
-Venha para a igreja e Deus vai mudar sua vida e você nunca mais sofrerá por causa de dinheiro.”

Respiro fundo, abaixo os olhos, triste, desligo a tv. Me vendo exatamente na situação em que o entrevistador sugere o conselho. Precisando de dinheiro, enfrentando lutas na vida financeira.
Mas a tristeza não é por mim, é por ele. Eu tenho aprendido a viver pela fé, a ser fiel, a ser mais prudente e organizada, a adorar a Deus em todas as situações, e creio que melhores dias virão sim, com trabalho, oração, sem perder a alegria e sem perder o juízo.
 A tristeza é pelo evangelho torto, incompleto, que tem sido oferecido, por pessoas interesseiras, criando cristãos igualmente interesseiros. 
Recebemos tudo ,muito mais além do que merecemos, recebemos, amor, perdão, recebemos o sacrifício de Cristo e a salvação pela graça. Somos eternos devedores como a palavra diz.
E vejo a igreja, a igreja, que deveria pregar o evangelho que traz arrependimento, rendição, o morrer, diminuindo o homem para Cristo ser glorificado. 
Vejo a igreja pregar uma mensagem motivadora, que o homem tem direito de reivindicar, de cobrar, de espernear para que o Pai conceda todos os desejos do filho.E ponto. 

Não há pecado, não se fala mais em pecado, e o nome de Jesus, o precioso nome de Jesus, passa a ser usado como um validador para que seja liberada a minha requisição, o meu pedido, o meu sonho.
Como um cartão de crédito sem limite em nome do beneficiário.Deus é Deus, Ele pode e faz pobres saírem da pobreza, faz desempregados se tornarem empregadores, e isso eu sei como também sei que esses mesmos milagres não são nada comparados ao milagre de uma salvação.
De que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Quando Cristo deu a ordem do IDE para os seus discípulos, ele queria que cada um deles tivesse a responsabilidade de livrar almas do inferno, não de prometer e anunciar o “céu” na terra, na vida das pessoas.
Quanto mais desejamos as coisas do céu, menos desejamos as coisas do mundo.
Se a igreja continuar diluindo o evangelho para agradar os que ouvem, seremos culpados pela superficialidade de suas raízes, logo, o sol secará a fé deles.
No evangelho verdadeiro tem que haver mudança, de caráter, de vida, de modo que o desejo mais profundo e incontrolável, e constante no coração destes cristãos seja pedir...

PERDÃO!


Kelly Rodrigues


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O VÍCIO DA ROTINA


Estava com aquela vontade doida de fugir, correndo para qualquer lugar que fosse bem longe de tudo que fazia parte da minha rotina. 

Pensei comigo; não posso perder essa oportunidade...ahhh é agora mesmo que pego minha mala e minha cuia, seja lá o que signifique a cuia nessa história e vou morar na praia. 
De mala, cuia, mudança e tudo que tem direito. Tchau centro-oeste, olá nordeste, tchau cerrado, muito prazer litoral! Tudo é festa, vamos lá...uhuuu!
Tudo bem até aqui, mas o fundo musical alegre murcha de uma vez só;
- Bluuuuurgrlgrlglr....
Gente, o ser humano foi feito para viver numa rotina. Agente precisa, gosta, constrói, depende de uma rotina, e eu não estou dizendo marasmo heim?! Existe uma diferença. 

Falo da segurança que a rotina traz, do controle que temos quando está tudo ou quase tudo no devido lugar, saímos de casa quase fazendo o caminho de olhos fechados, compramos as mesmas coisas, no mesmo lugar, vemos as mesmas pessoas.
Como diz o meu apóstolo, quando gosto de uma coisa, vou com ela até o arrebatamento!
Agente reclama da chatisse que é fazer quase tudo igual, todos os dias, mas posso dizer pra você, que ainda está relutando em concordar comigo, nós gostamos.
Pois bem, não estou murmurando não, cidade linda, estou muito bem resolvida, obrigada Senhor! Mas é muita mudança de uma vez só e me vi assim com um olhar desconfiado, inseguro, igual ao filho que se perde no supermercado:
Onde é que eu tôooo, eu quero minha mãeeee!
O clima é diferente, o horário é diferente, a casa, as pessoas, o trabalho, o sotaque, a comida, hei cadê meu mundo? E aí eu sinto falta do previsível, pelo menos de uma dose pequena que seja.  

Fui á feira comprar farinha, farinha estranha, branquela, cheia de caroço, pelo amor de Deus, torra esse negócio direito e passa uma peneira, eu lá quero comer a farofa e engolir um dente junto?
Queijo minas fresquinho, nunca precisou, aqui é queijo cru, que de fresco não tem nada, eu que me senti uma fresca com a cara que o feirante me olhou.
Pamonha! Pronto, achei uma referência goiana uai.
-Pamonha de quê moço?
-Ôxe, como assim, di milho!
Pois é, aqui não tem "de sal" não, é só "de doce" e também não vem nada dentro não, queijo, lingüiça, frango nadinha é só a massa.
Amendoim cozido...eca, vem naquela casca mole babenta, é cozido mesmo.
Outro absurdo; a coca, não é de 600 é de 500ml pode?
A vogal “e”foi definitivamente aposentada, ou ela vem exageradamente acentuada ou é trocada descaradamente pelo “i”. E eu fico sofrendo já, com o que vão mangar de eu, porque sotaque pega, ah peeegaa, pior do que bocejo. Já até engoli alguns artigos.
Não é o João, é João num sabe, vice?
Não é a roupa da Maria, é a roupa di Maria.
E o sexy é ter bigodão...Paraíba que é charmoso mermo, tem um.
Então gente, resumindo, é bom estar em constante transformação, como pessoas, crescendo tal, é bom mudar algumas coisas na vida, o novo ensina, enriquece. Mas tudo de uma vez, não é moleza não, heim. 
Deus gosta, eu que sei, Ele gosta de colocar agente nessa, porque quando não sabemos o que, como, quando, costumamos humildes, pedir uma mãozinha para o Supremo. 

E aí é com Ele, é o ambiente perfeito para Ele, até deixou escrito, todo todo....”Eis que faço novas todas as coisas”.


Kelly Rodrigues

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Eu sou EGOÍSTA!!!!!!!!!


Como mastigar areia, é incômodo e intragável ter que admitir.
Eu sou egoísta, mais incômodo ainda porque eu não gosto desta terminação "ista" porque ela julga, define, rotula.
Mas tudo no meu miserável coração tende a girar em torno de mim mesma, e eu observo do centro, sem querer sair dali.
Eu quero tudo para mim, por minha causa. Tudo afinal de contas deve ser diagnosticado em; se eu estou bem ou não, se eu tenho ou não. No final de cada dia me pergunto, foi bom pra mim? Acho graça do trocadilho, mas uma graça sem graça, envergonhada, pensando agora, como sou pequena. Uma criança birrenta.  Quase todas as pessoas evitam falar de seus próprios defeitos, por qual motivo senão pelo ego?
 Eu me pego pensando que o ano foi bom, que sou privilegiada, afinal de contas tanta tragédia aconteceu por aí, e eu moro num país tropical abençoado por Deus e aqui, perto de mim, não desabaram cidades inteiras, ninguém que eu amo ficou soterrado, ou morreu vítima de violência, vítima de qualquer coisa, e isso é motivo de alegria, porque não foi comigo, ou com alguém que eu amo. Foi com um próximo mais distante...
Agora visto desta maneira nem há tanta alegria.
Lamento que a minha solidariedade só lamente.
Eu amo...
Até o meu amor é egoísta, porque me pergunto se entre ser feliz e vê-los felizes (sem mim), que escolha  seria verdade? Eu amo então? Quando sofremos, decepções e perdas sofremos porquê temos uma autopiedade, pela falta que sentiremos, pela frustração da expectativa e dos planos que o EU construiu, com aqueles e não por eles.
Eu os quero bem, porque eles me fazem bem e mais uma vez essa é a questão.
Mas eu faço o bem, tenho boas ações, acho indispensável , é ótimo ajudar o próximo, repartir, usar de gentileza, para ter uma consciência mais leve, mais em paz.
 Então o bem que faço também é para o meu próprio.
E estamos sempre insatisfeitos com alguma coisa, e nos convencemos que poderia ser melhor, que as coisas poderiam ser mais fáceis, a felicidade mais duradoura, tudo um pouco mais favorável para nós, como quem diz mesmo sem dizer; se eu fosse Deus faria melhor do que Ele.
Não estou mais pessimista neste texto, estou mais consciente, ainda assim inconformada tentando melhorar. Como Paulo um dia disse de si mesmo: Miserável homem que sou...
A moral da história é cinza. Não há orgulho em mim ao concluir, não sou assim uma alma falsa, sem coração e  insensível.  A reflexão  não é só sobre mim,  também não é sobre tudo em todos, mas é sobre todos, nós somos assim. Alguns admitem outros não, mas temos uma natureza egoísta, incapazes de nos importar com os outros, a ponto de nos colocarmos no lugar deles.
Subestimo e tiro o encanto das relações e sentimentos ou desvendo o feio por detrás do romance quer criamos? Você escolhe o ponto de vista, eu já acho saudável o questionamento.


Kelly Rodrigues.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eta saudade...

Conheci há alguns anos uma pessoa que mudou completamente a minha vida. Daquelas que dividem entre  o antes e o depois mesmo. A primeira impressão que tive foi de uma mulher ranzinza demais para o meu gosto, de voz firme, lá no fundo um pouco doce, mas, só um pouco. Pensei comigo; melhor manter uma distância segura.
Foi assim nos tempos de meus primeiros passos com Cristo. Um dia a ouvi falar dele, e o jeito como ela falava deu vontade de saber mais, falava com um tom de voz intenso e apaixonado, como quem encontrou a razão para viver e para morrer.
Um jeito de falar, que eu não encontrei ainda em outra pessoa. Com uma voz grave, e  as sobrancelhas cerradas, parecia que estava muito, muito, brava,  ás vezes eu ficava ouvindo paralisada com medo de sobrar pra mim. Depois os olhos iam se enchendo de lágrimas e a voz de repente ficava aguda e chorosa, emocionada. Gesticulava o tempo todo e quanto mais se concentrava na oração, mais fechava os punhos ou apontava o dedo parecendo mandar em alguém. Eu mudei de idéia, tive que admitir que para quem queria manter distância, estava muito perto e vi que tinha sido uma boa decisão.
Uma mulher assim daquelas  que se sente á vontade dentro da própria pele, e eu também me sinto á vontade perto dela, mais do que com a maioria das pessoas. Cada vez que nos, separamos, tenho a sensação de ter tido a melhor conversa da minha vida, mesmo que eu tenha falado mais. Admito que é confortável ver nela alguns traços meus; é decidida, teimosa, personalidade forte, meio Pedro como costumamos falar. Mas foram as diferenças que me ensinaram mais; coração perdoador, altruísta, serva. Olhos voltados para ver sempre o bem em todos por menor que fosse.  O viver pela fé, viver de renúncias,  de doar-se, doar tempo, oração, roupa, sapato...
Mesmo de tão perto os defeitos que conheço não apagam as virtudes, nem ao menos as deixam nebulosas.  Uma memória defeituosa virou até motivo de diversão, assim como a soma incontável de celulares perdidos, de chaves perdidas, de dinheiro perdido.
Decorei versículos que passaram a ter a cara dela ás vezes quando leio até repasso o som da sua voz:
Gl. 5:22 ,de tanto me mandar foi o 1º que eu decorei, viver já é mais difícil.
 "Se levar uma alma ao arrependimento cobrirá uma multidão de seus próprios pecados". "Hei, rebeldia é pecado de feitiçaria, você não é feiticeira!"(Este eu ouvi demais). " No amor não há temos, antes o perfeito amor lança fora o temor"...
Me lembro que sofri um acidente e fraturei a perna, coisa feia. Bem na frente da casa da minha mãe, e a primeira coisa que eu pedi foi; Mãenhê liga pra Dri!
E ela foi correndo.  Uma espécie de segunda mãe que até fica em primeiro lugar em matéria de bronca:  "Ai, ai Dri não me bate!"
" Não fala isso, não fala aquilo menina". "Puxa essa blusa, fecha esse decote!" "Joga esse vestido azul fora menina!" (Doei tá Dri?).
E em primeiro lugar de folga também; "Me dá o bacon do seu sanduíche" "Desculpa, hoje eu comi feijão", " Olha a Sophia pra mim"? " Fica na salinha hoje?".
 E eu que não tenho palavra de jeito nenhum, vou de cara feia,  falando que é a última vez.
Agora, pra quem não conhece e não está entendendo nada, vou explicar; é que daqui, do outro lado do país, deu uma saudade grande demais, quase nem cabe dentro de mim. Achei que o texto poderia ser uma espécie de obrigada por tudo, eternizado.
Dri, te amo demais viu?  Obrigada, pastora, mãe, amiga, espero que eu  possa ainda te dar muitas alegrias.


Com amor Kelly Rodrigues.

domingo, 7 de novembro de 2010

Eu sou Zem... "zem" paciência!!!



Estopim curto, bruta, estúpida, irritadinha, nervosinha, "ai, credo!"...
Tudo que eu sou obrigada a escutar só porque reajo merecidamente de forma explosiva, quando ocorrem episódios desagradáveis, que cessam meu estoque de paciência. Tenho depois que usar uma frase, de reconciliação, que inclusive é o título de uma comunidade no Orkut; "Desculpa, é que eu tava nervoso!" (tenho adicionada).
Coisas que me tiram do sério:
Pessoas hiperativas que não conseguem ficar quietas e procuram alguma forma de produzir ruído repetitivo, como se estivessem querendo criar uma versão tosca da ópera de Franz von Suppe, Cavalaria Ligeira (obrigada google).
Os instrumentos também são mais pobres: Os dedos na mesa, o pé na cadeira, a caneta, o que tiver pela frente serve. Geralmente uso um bordão para interromper; "Quanto você quer para parar com isso?". A pessoa faz uma oferta, mas, entende que é no sentido figurado e desconfia. Ufa, que silêncio bom!
Ai! Gente que arrasta o pé quando anda... além de ser deselegante, fica aquele chiado horrível do atrito.
Tira o pé do chããããão! (Sentido literal).
Gente que pergunta durante o filme. Quem é esse ai? O que vai acontecer agora?
(Anta, você também não está assistindo o filme? Presta atenção").
Detesto gente que que fica chamando a atenção no msn.
(Poxa vida, não dá pra esperar um pouquinho? ).
Corrente de email... p@#$%#e@#!!!!!!!!!!!
Gente que conversa pegando na gente, dá um tapa nas costas e diz; "meninaaa.....você não sabe...", segura o braço pra olhar nos olhos da gente; " aí,o quê que aconteceu...."
(Hei, "SEM CONTATOS FÍSICOS"!!!).
Vícios de linguagem. Esses são campeões!
A repetição contínua, sem necessidade e irritante das palavras. Tipo:
Aí né, eu entrei né, e fiquei lá. Depois né, ela chegou né...
(Chato né?).
Eu estava lá entende, na minha entende, sem ofender ninguém entende...
(Não, não entendo).
Aí, eu já perdi a paciência né? Aí, eu deixo a pessoa sozinha né? Que ninguém merece né?
Outra coisa irritante é quando a pessoa formula uma pergunta e depois responde, ao invés de simplesmente expor uma afirmação:
O que eu quero dizer com isso?
Quero dizer que esse tipo de pessoa cansa.
Como assim cansa?
Porque não diz o que quer dizer de uma vez.
E porque não vai direto ao ponto?
Porque precisam testar o limite de pessoas como eu.
Produto sem preço no supermercado! Nunca tem leitor de código por perto, agente podia ter o direito de levar de graça, certeza que davam um jeito.
Esperar... com fome então, definitivamente não me responsabilizo por meus atos.
O pedido chega primeiro na mesa que pediu por último... dá vontade de ir lá, pegar o pedido de volta, "desculpa gente, enquanto eu não comer, vocês também vão passar fome".
É justo, é muito justo, é justíssimo!
E o garçom fica de papinho com a moça do caixa enquanto eu treino todos os meus adjetivos  garçônicos possíveis; amigão, chefe, filho da mãe!!!
Imediatista, sou eu.
Brincadeirinha de criança também me irrita, tipo alguém que chega por trás e tapa os meus olhos com as mãos, "adivinha quem é?..." (não enfraquece a amizade vai).
Ou fica cercando de propósito impedindo que eu passe, eu dou um passinho pra direita o infeliz vai também, pra esquerda, tá ele lá, a vontade é de dar um soco logo pra ver se ele cai e eu consigo seguir meu caminho.
Não gente, eu não estou de tpm, e também olha, nós mulheres temos o direito, tpm é só o período de alguns dias por mês, em que agente se comporta como os homens se comportam o ano inteiro. Já estou  ficando irritada só de pensar em tudo isso, o post já está ficando muito, muito grande, então, prometo abrir com este, uma série, assim eu desabafo e vocês se identificam a cada novo episódio...


Kelly Rodrigues.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Idiotice = felicidade




Li outro dia a seguinte frase: A idiotice é essencial para a felicidade.
Adorei! O texto que se seguia incentivava-nos a nos divertir com nossos próprios vexames, a assumi-los mesmo. Então pronto, resolvi obedecer.

O que é a vergonha? Bochechas vermelhas, vontade de sumir de repente, frio na barriga, reação sem-graça, e aquele riso acanhado tentando disfarçar tudo. Normal, saia justa esta, que visto quase todos os dias, devido a muito mais que somente um comportamento distraído e desastrado, não, é muito pior, é uma lesera, quase que absoluta.

Mania de não pensar direito antes de abrir a boca, falar a coisa errada, na hora errada, para a pessoa errada. Essa sou eu gente, entre micos e king-kongs tenho uma coleção repleta das mais diversas situações constrangedoras. Vítima do azar mesmo, ou da atração fatal que tenho pelas gafes.
Pois bem, a história que vou contar é uma delas.

Outro dia me assustei, distraída com o final de um filme me atrasei para o culto de domingo, já eram 18h30min e o culto começa 18h30min eu já devia estar lá.
Corri para um banho relâmpago, vesti qualquer roupa, passei só um batonzinho e fui. Demorei sossegar a agitação da correria, mas consegui me concentrar.

Ufa. No finalzinho já do culto, encasquetei que a senhora no banco de trás cochichava alguma coisa sobre mim, olhei de rabo de olho, ela fazia uma cara estranha, apertava os olhos como quem quisesse enxergar direito, devia estar me achando parecida com alguém pelo jeito, sei lá. Cochichou de novo, já fiquei irritada, ela ficou inquieta, já não prestava atenção no culto, nem eu, parecia que hesitava em me dizer alguma coisa.
Deve estar querendo lembrar-se de onde me conhece, pensei. Eu nunca vi mais gorda, mas também nem posso confiar na minha memória... Vamos acabar logo com isso, Arquitetei um plano, resolvi olhar para trás e sorrir, assim ela toma coragem e fala logo de uma vez.

Deu certo, eu olhei, sorri, ela sorriu de volta e desabafou: “Moça, tem uma coisa estranha nas suas costas, o que é isso?” Falou já passando a unha, despregando alguma coisa de mim, olhou rapidamente o objeto sem identificar e me entregou.

Puts, o finalzinho do sabonete bege, com perfume de amêndoas, do tamanho de uma rodela de limão, ficou pregado nas minhas costas, secou e virou um grude branco esquisito, amassado, parecia uma deformação ou coisa parecida.

Peguei aquilo e nos primeiros segundos fiquei confusa, depois que percebi, caí na risada, na correria do banho, nem percebi nada. A família inteira atrás de mim queria desvendar o mistério, mas eu só ria, como vou explicar? Fiquei vermelha, roxa, pensava em tomar fôlego e dizer alguma coisa, mas só de imaginar caia na risada de novo.
O marido do lado também sem entender, aproveitei que todos se levantaram para a oração e sai de fininho ainda com crise de riso, fui pro banheiro, tirei o resto de sabonete que ficou e esperei o final do culto.Eles que fiquem sem saber...
Eu é que penso...topei com a senhora na saída da igreja e ela indiscretamente disparou:”Era sabonete nééé?!”(mangando de eu) e eu achando que ia escapar, ah, mas já tava lascado mesmo... “Era tia, ( me vinguei, chamei ela de tia) era sabonete, tomei banho ás pressas, o sabonete tava no fim, não deu tempo de pegar outro, ele grudou nas minhas costas e ficou lá distraindo a senhora a noite inteira.
Kkkkkkkk risada geral. Ah, eu nem conhecia a tia mesmo. Fui embora correndo, contei pro marido, ele incrédulo, ria sem parar, imaginando eu lá com o sabonete grudado o culto todo, me olhou com aquela cara “Você heim, não tem jeito”. Não perde a oportunidade de me lembrar sempre que eu sou tão higiênica que levo o sabonete pra onde for para o caso de precisar.
Aff, pelo menos ele e todo mundo riu muito, descontraiu, você também agora lendo o texto se diverte mesmo que sendo ás minhas custas. A idiotice é essencial para a felicidade, lembra?


Kelly Rodrigues.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Gente chique não é tão feliz como eu!


Ontem eu fui a uma festa de grandes empresários, desembargadores, políticos, gente da alta, e claro, longas cerimônias de homenagens, fotos históricas e demais formalidades.
Nem vou explicar como eu fui parar lá, mas, com toda certeza não estava em meu habitat natural. Fiquei sabendo da festa á tarde, meu marido ligou, disse que teríamos  um compromisso chique, uhu! Pintei as unhas, chapei o cabelo, peguei vestido emprestado, brinco emprestado, coloquei o scarpin preto básico, maquiagem, pronto, linda.
Difícil é ser linda e ir de moto. Puts, o vestido sobe, fico com as pernas de fora, o marido (de cara feia) tira o blazer e eu jogo por cima para cobrir.
Chegamos, seguranças na porta, recolhendo convites, o salão é lindo, todo decorado com galhos secos cobertos com flores e laços, espaços com sofás e pufs, tapetes felpudos, modelos de vestidos longos, sorridentes, contratadas só para dizer; "boa noite, sejam bem-vindos". Até o banheiro tem ante-sala com sofá. As mesas com toalhas sedosas, enfeites no centro, taças, tudo deslumbrante.
Mas o primeiro mandamento para festa chique é fazer cara de normal, (quase esnobe) pra tudo, não se deixar impressionar. Como se já estivéssemos habituados a todo esse requinte. Foi o que eu fiz. Facilmente camuflada em meio aos ricaços.
Nos sentamos, postura...e os garçons começaram a servir... água.
Lá vem outro, com uma jarra linda, com mais...água. Por isso que gente chique não tem desidratação.
E as horas passam, passam e a fome chega, e mais homenagem, plaquinha, medalha, discurso... e a fome derrota a cara de normal. Vem a cara de fome mesmo, olho em volta, todo mundo parece bem alimentado, ou melhores atores do que eu.
Música ao vivo, instrumental tocando chorinho, mpb, deu um sooonoo!
Olho para a porta da cozinha, até que em fim vejo bandejas com comida. Animei.
Para comer bem em festas assim agente tem que ter sorte ou boa intuição.
Nunca se sabe o que estamos comendo.
Ameixa recheada com queijo? Folhado de abóbora com pêssegos? Urgh !
Canapés; que torradinhas lindas, tão bem decoradas, tudo pequenininho, igualzinho. Como saber qual deles vale a pena?  Já estava com vergonha de perguntar com uma expressão de medo: "o que é isso?".
Festa de pobre não tem dessas coisas, coxinha, quibe, empada, esfirra; todo mundo sabe o que é, tem forma definida. Ah que saudade!
Chegaram com uma panqueca de frango ao molho branco, panqueca não, crepe. Ufa! Delícia, pena que a porção é tão pequena.
E agora que a festa começou a ficar boa, o povo começa a ir embora. Não sei se pobre é que gosta de ficar na festa até o fim, (para levar as sobras) ou se os ricos vão embora mais cedo para comer. Acho que as duas coisas.
Realmente alegria de pobre dura pouco, a satisfação mal se aproximou do meu rosto e do meu bucho e já teve que ser interrompida pelo fim da festa.
Melhor ir para casa, acho que eu não nasci pra ser chique.
Mas também, que negócio é esse, ser chique? Coisa mais besta!
Essa palavra existe afinal? Espera ai, vou procurar no Google...
Achei! Chique:  Glamuroso, requintado, charmoso.
Ah, tão superficial...Se me permitem gostaria de melhorar:
Chique: Pessoas extremamente educadas, sensatas, falam baixo, discretas, elegantes, éticas, bem-humoradas, gentis... Sem muitas frescuras e que comem comida de verdade!
Para mim ser chique não tem muito a ver com ter dinheiro ou apenas boa aparência, estar bem vestido, mas, também, e principalmente, ter um comportamento adequado, admirável, nobre. Se for assim, ainda há esperança, até porque “só me falta-me o gramour” que nada, kkkkkkkkkkkk eu sou chique 
 bem!




Kelly Rodrigues.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Coisas de Vó...

Minha avó é uma senhorinha negra, miúda, católica roxa, como se diz por ai dos fanáticos por futebol. Já com a saúde debilitada, quase não enxerga mais e anda com dificuldade. Como quase toda vó que se preze, tem um vocabulário caboclo, simples, repleto de adoráveis erros de português e palavras arcaicas que já não sabemos traduzir.
Já perdi as contas de quantas vezes por dia ela reza o tal do terço, até outro dia descobrir, que ela pula as bolinhas disfarçadamente de duas em duas, de três em três, na malandragem, para acabar mais depressa.
Ela sempre foi brava, sempre aparecia na hora exata em que eu executava um plano maligno. Eu amava ir pra casa dela, adorava roubar as laranjinhas que ela fazia para vender, sempre duvidava que ela fosse sentir falta, mas não é que ela contava uma por uma?
Agora, ela também já não ouve muito bem, na verdade, eu desconfio que ela tem uma espécie de audição seletiva; ouve só o que realmente lhe interessa. Heim???
Dorme sentada, agente fala; "vó, vai deitar na cama!" ela diz, "não tô durmindo, só tô descansando os olhos".
A memória também já falha, troca os nomes dos netos, esquece que almoçou, muitas vezes nos divertimos com as confusões que ela faz.
Também tive outra vó, esta já falecida, era menos puritana que a outra.
Quando eu era criança aprontava atrocidades e corria pra me esconder atrás dela, e ela mesmo depois de tanto me advertir que Deus não gosta de mentira, mentia sem pudor para me defender; colocava a culpa da "arte" no cachorro, no vizinho, ou assumia tudo. Soltava sempre aquela famosa frase de vó; "tadinha, ela é pequena!"
Quando meu pai me obrigava a comer verduras e legumes e eu sofria horas intermináveis, ela dava um jeito de raptar tudo do meu prato e comia ou jogava num vasinho de planta mais próximo.. Ela era a mais engraçada das vovós. Sempre ficava doente e sempre sabia de uma garrafada boa para o mal, uma raiz qualquer curtida no vinho branco, então se curava da doença e ficava tonta ao mesmo tempo.
Ela achava nojento beijo de língua, mas teve 12 filhos, um atrás do outro. rsrsrs (sem beijar?).
Quando começava a perder o controle dos netos, ela reunia todos e contava histórias de terror, até agente ficar tão apavorado, que não desgrudava dela, a seguíamos pela casa toda, agarrados na barra da saia.
Tem coisas que tem cara de vó, comida de vó; biscoito frito, pão de queijo....
Cheiro de vó, uma vó tinha perfume de alfazema, a outra cheirava  a leite de rosas.
As duas ficavam horas contando histórias de quando o mundo era menos violento, a palavra dos homens tinha valor, as moças eram mais recatadas, a vida era mais dura, mas, dava saudade.
Eu ouvia aquilo e tinha certeza absoluta, que preferia o mundo moderno de agora, mas, nem falava nada, melhor não interromper a nostalgia.
Ah, mas agora é que vem o troco. Eu mesma já envelheci para as crianças de hoje, a fita cassete, o vinil, o disquete, a datilografia, a tabuada, os desenhos e os programas que assistia, as músicas, as roupas, as gírias que estavam na moda...
Como vou explicar tudo isso?
Eles dirão de mim...coisas de vó!
Enquanto esse dia não chegar, melhor me atualizar num up-grade contínuo para não ser ultrapassada pela nova geração, melhor não confessar as antiguidades da minha infância, se eles não souberem, não poderão usá-las contra mim. E que o Renew me ajude a me camuflar entre os jovens por mais alguns anos.
Ai que medo........


Kelly Rodrigues.